NARRADOR: Era uma vez um menino chamado Zé Bento. Ele morava com sua mãe, num pequeno barraco construído de madeiras velhas, que ficava no alto do morro. Esse lugar era um pouco longe da cidade. A mãe dele estava muito doente, sempre de cama.
MÃE: Zé Bento, meu filho... (ela começou a falar, com dificuldade e tosse que tosse) Pegue este último dinheirinho... e vá até à cidade comprar pão!
ZÉ BENTO: Sim senhora! Volto logo, mãe!(Zé Bento deu um beijo no rosto da mãe e, depois de receber um agrado em seus cabelos)
NARRADOR: Ele seguia seu caminho quando de repente...
CACHORRO: Uiii... Uiiii... Gaanhiumm... - Uiii... Uiiii... Gaanhiumm...(Tão logo parou atento, olhou em sua volta um cachorrinho que gemia de dor.)
ZÉ BENTO: Que tem o Totó? - Ora... você foi atropelado e quebrou a pata! - Vou dar um jeito na sua pata!(examinando com cuidado sua pata)
NARRADOR: O cachorro chorando e derramando lágrimas, como que disse que era isso mesmo e dizia isso abanando o rabinho. E com a prática de todo menino pobre, que sabe improvisar as coisas para prestar socorro, foi logo apanhando dois galhos de uma pequena árvore. (fez o curativo)
ZÉ BENTO: Pronto! Você já pode até ficar em pé. Vá para a sua casa, Totó! ( o cachorro fica de pé com grande contentamento, quando o menino se afasta, Totó corre atrás dele)
NARRADOR: O cachorro salta desajeitado demonstrando carinho e gratidão lambendo as mãos do menino e o acompanha, mancando.
ZÉ BENTO: Já sei. Você não tem casa, não tem para onde ir! Está bem! Já que não tem casa. Venha comigo!
NARRADOR: Enquanto isso, na padaria
ZÉ BENTO: Olha Totó, como não pode entrar cachorro na padaria, você senta aí e me espera que já volto. (Totó abana o rabinho)
(No retorno o menino procura o cão mas não o acha, mas de repente ele vem com um osso na boca.)
ZÉ BENTO: Danadinho! Já arrumou o seu jantar de hoje! (afagando a cabeça dele)
NARRADOR: Os dois seguiam viagem, ele levando o pão e o cachorro com o osso. (o cachorro fareja algo: um homem pobre esfarrapado e doente)
ZÉ BENTO: Que foi? O senhor está bem?
HOMEM: Estou com fome e frio. ( O menino sabia que aquele pão era o único alimento em seu barraco para ele e sua mãe doente. Agasalha o homem com sua própria blusa)
ZÉ BENTO: O senhor... aceita... um pedaço de pão? ( O menino parte o pão em dois pedaços e dá um para o moço)O que tenho, lhe dou!
HOMEM: E o outro pedaço?
ZÉ BENTO: Este outro é de minha mãe! ( O homem começou a comer o pedaço de pão)
HOMEM: E você não vai ficar com fome?
ZÉ BENTO: Que fome que nada!
Como o homem também não tinha para onde ir, foi para a casa com o menino e o cachorro. Chegando em casa:
ZÉ BENTO: Mãe, este é o Totó, ele estava machucado, na beira do caminho e depois de socorrido me acompanhou até a padaria e veio para casa.
MÃE: Você... Você... com esse coraçãozinho cheio de carinho. Comprou o pão?
ZÉ BENTO:Trouxe também um moço doente que também tinha forme.
MÃE: Temos alguém em casa? Onde ele está?
ZÉ BENTO: Lá no quintal. ( A mãe levanta-se com dificuldade, se foi arrastando até onde o homem estava.
MÃE: Deus seja louvado! Sente frio, meu bom homem?
HOMEM: Zé Bento me agasalhou com sua blusa.
MÃE: Bem... Aqui é casa de pobre! Vou terminar uma sopinha que está no fogo e onde comem dois, comem três! ( A mãe recolhe a panela e arruma a mesa e pega o que sobrou do pão e o divide em três pedaços e distribui)
Depois da sopa o homem agradece e pergunta:
HOMEM: Há sempre pessoas estranhas em sua casa?
MÃE: Este meu filho sempre traz alguém!
HOMEM: Eu tive fome e Zé Bento me deu o pedaço de pão que era dele.
MÃE: É que ele aprendeu a repartir o pouco.
HOMEM: E eu estava com frio e ele me deu o único agasalho que o recobria. (Zé Bento olhou com carinho o homem que naquele momento acariciava os seus cabelos encaracolados, num gesto de amizade e gratidão)E eu estava sem casa onde ficar e me trouxe ao barraco de sua mãe. O que pediria você a Deus, por tudo o que me fez de bem?
ZÉ BENTO: Eu... Eu nada pediria a Deus! Mamãe sempre me diz que o que podemos ofertar aos outros, daquilo que temos, já nos veio de Deus!
MÃE: E se já nos veio de Deus, que mais pedir sendo que estamos doando aquilo que o Pai Celestial nos doou?
O que mais gostaria de receber dos Céus? O menino respondeu sem hesitar:
ZÉ BENTO: Eu queria... que minha mãe sarasse!
MÃE: Ora, Zé Bento, tenha modos! Não aborreça novo amigo que nos visita esta noite. Falou docemente a mãe.
HOMEM: Ele não me aborrece! Só me dá alegrias! ( O homem pobre levantou-se e, fazendo a mãe do menino sentar-se num banquinho diz:)
HOMEM: A senhora quer ser curada?
MÃE: Isso tenho pedido a Deus, para poder criar meu pequeno Zé Bento.
(O homem de modo simples, estende as mãos sobre a cabeça da mãe, olha pro alto e faz uma oração:
HOMEM: Ó Pai de misericórdia infinita! Eu tive fome e recebi um pão. Estava nu e com frio e me vestiram. Encontrava-me em desabrigo e eles me acolheram em sua casa! Assim, ó meu Deus, para aqueles que me acolheram sem temor e sem perguntar quem sou, rogo a bênção da saúde e da paz. (O barraco naquela hora ficou mais iluminado)
MÃE: Meu Deu! Meu Deus! – exclamou a mãe de Zé Bento, derramando lágrimas,
ZÉ BENTO: O que foi? O que foi, mamãe?
MÃE: Veja! Estou curada, meu Deus! E Deus seja louvado!
NARRADOR: O homem pobre, naquela altura, estava mudado. As suas roupas, agora, eram de uma luz branca e seus cabelos eram longos, caindo pelo ombro, com uma cor maravilhosa e seus olhos de um azul infinito transmitiam fé e esperança.
MÃE: Óh! Bendita criatura que nos visita! Quem é, afinal, o senhor, que nos chegou como um homem pobre e maltrapilho e tanta alegria nos traz?
HOMEM: Sou Jesus de Nazaré.
NARRADOR: E. logo mais, na porta do barraco singelo, Zé Bento, abraçado à sua mãe, com Totó a roçar-lhes as pernas, olhavam Jesus que se afastava com um sorriso de muito amor.
(Roque Jacintho)
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